terça-feira, 30 de agosto de 2011

O palco na Telona

Não é de hoje que o teatro inspira outras atividades humanas. Psicologia, Filosofia, Música entre tantas outras, buscam no universo paralelo criado pelo teatro (seja na dramaturgia, seja na encenação ou mesmo na prática cotidiana de se fazer teatro, de se viver para o teatro) um tema, um mote, uma história, uma reflexão, uma teoria...
Tudo isso e muito mais nos é oferecido o tempo todo pelo generoso ato de representar, e aqui eu digo representar num amplo sentido aristotélico de recriar o princípio criador.


Tá ficando pesado o post, né? Parecendo tese... por que será? Vai piorar, veja só:

Mas o cinema, ah, este tem um verdadeiro caso de amor com o teatro. A gente até chega a achar que é seu filho direto. Cleise Mendes em As Estratégias do Drama nos lembra ao discutir sobre a Convivêcnia Dramática:

Existe uma arte do drama e uma arte do teatro. Se durante séculos o palco foi o lugar privilegiado para uma leitura produtiva dos textos dramáticos, no presente o drama tem íntimas e inquietantes relações com outras linguagens, entre as quais a grande arte cinematográfica.” (MENDES, 1995. P. 30)
Num falei? Rolou até citação... Isso que dá fazer post no meio dos estudos do doutorado. Mas, avancemos...

Não é à toa que a relação do teatro com o cinema é mais do que íntima, é de parentesco. Cineteatro. O termo vem justamente do cinema enquanto lugar onde se assiste o filme. Lembrando aos desavisados que teatro é, etimologicamente, o lugar preparado para o olhar, do grego THEATRON. Home-theater não é para você assistir a peças me casa, mas sim, a filmes. E nos traillers a gente sempre vê em inglês: ONLY ON THEATERS (ou theatres ambos corretos), que é APENAS NOS CIMENAS, ou seja, ainda não em dvd. Só na sala preparada para o seu olhar.

O que eu quero dizer em relação à citação de Cleise Mendes (minha querida professora de Dramaturgia) é que não estou falando apenas do drama (do grego DRONTAS, ação) no cinema, quer seja a dramaturgia do roteiro ou um texto dramático que tenha virado filme. Essa categoria será a segunda leva de sugestão de filmes, porque são muitos, muitos, muitos filmes cujo roteiro é a adaptação de uma peça.

As diferenças entre texto dramático e texto teatral são ótimos de serem estudados, mas não cabe aqui, né. Alô queridos estudantes de Jequié, esse papo é privilégio nosso...


O que está nessa página O PALCO NA TELONA, nesta primeira edição é uma lista de 20 filmes que versam sobre o universo do teatro.

Histórias sobre atrizes, atores, grupos, autores, sobre um determinado período da história do teatro, portanto da humanidade, ou mesmo reflexões sobre este mundo que olhado assim, bem de pertinho nos falam tanto dessa tarefa árdua e doce de ser gente.

Não é à toa que segundo Harold Bloom (lá vem eu de novo...) diz que Shakespeare inventa o ser-humano, ou que a Tragédia Grega seja apontada nos estudos da Psicologia e da Filosofia como o berço do homem ocidental, como o conhecemos (e o somos) hoje. Mas, voltemos à lista:

A maioria deles eu já assiti, outros foi buscando em blog mesmo. Alguns eu gosto muito, outros eu acho chatos, mas todos importantes.

Entre os meus favoritos está o clássico A VIAGEM DO CAPITÃO TORNADO do maravilhoso Ettore Scola de quem eu amo todos os filmes. Além de uma linda viagem pela Commedia Dell'Arte o filme é uma viagem pela o universo da beleza. Enfim, clássico é clássico, né.

Outro queridinho é do meu outro ídolo do cinema Fernando Meirelles, que apesar de ser uma adaptação de uma obra canadense, tem uma íntima relação com nossa realidade brasileira. Elenco, direção, roteiro, Afi Maria é tudo perfeito. E a trilha? Secos e Molhados para os novos conhecerem e os velhos morrerm de saudosismo. Tudo de bom. SOM E FÚRIA coloca Shakespeare dentro da nossa sala, do título ao roteiro, passando obviamente pelas obras encenadas pelo grupo. A humanidade das personagens, todas elas, do protagonista aos figurantes é tocante. A brincadeira interna dos nomes, todos ou sua maioria tirados do universo dos grandes autores e diretores e personagens da dramaturgia universal (sem contar com a homenagem-veneno à grande crítica Bárbara Heliodora)são um presentinho para quem faz teatro e entende a piada. Amo muito.

PERGUNTE-ME SE ESTOU FELIZ é menos conhecido, mas nem por isso menor. Linda comédia sobre atores amigos e sobre uma montagem de Cyrano de Bergerac que acabou por inspirar o rebanho de atores numa de nossas montagens. Delicioso!

Alguns eu conheci há pouco. ILLUMINATA eu assisti por acaso num canal fechado nessas madrugadas que a gente fica zapeando. Belíssimo. LOPE eu assisti porque é tarefa de quem faz teatro assistir a essas obras, mas honestamente eu num gostei, não. Primeirisimamente porque fala mal de Miguel de Cervantes e não dá pra levar muito a sério alguém que solta vários venenos questionando a qualidade literária de Cervantes. Tudo bem que sua grande obra seja um romance, mas eu acho feio esculhambar um artista para elogiar outro. Fico já de má vontade com essas práticas. Depois, o filme é ruim, o ator principal não tem carisma, o roteiro é previsível até a alma e tem cenas que são uma cópia da versão cinematográfica de Cyrano de Bergerac (de novo) na versão com Gerard Depardieu, que eu adoro! Gosto da direção de arte, da ambientação, da reconstituição história e só. Mas tem que assistir, viu, gente, não dá pra ficar com a minha opinião só, né.

O restante são filmes importantes que mereceriam também ser comentados, mas o post ia ficar imenso e eu com as costas podres...(já sinto uma dor na cervical).

Termino com aquele que jamais pode ser esquecido. Para mim o melhor filme de Almodóvar (todos ótimos). TUDO SOBRE MINHA MÃE fala de tanta coisa, meu pai, que eu fico pensando quem é esse espanhol que consegue fazer tanta coisa num filme só. Alinhavados pela prática do teatro estão na tela amor de mãe, homossexualidade, transexualidade, amizade, AIDS, prostituição, drogas, enfim, como diz minha querida Antônia Pereira: deus, o mundo e as cabras do seu Raimundo. Aqui, no nosso caso, as cabras do seu Almodóvar, esse mestre da ficação e da beleza.

Chega né, gente. Larga essa intenet e vá ver um filme sobre teatro, porque é gostoso demais.

Deliciem-se.

O PALCO NA TELONA - CLIQUE AQUI

Conto com vocês para aumentar essa lista. Indiquem nos comentários deste post novos títulos que eu não conheça ou tenha me esquecido.


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2 comentários:

  1. Massa essa lista!!!
    Aqui vão alguns que vi e acho que valem a pena
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    Amélia
    Filme de ficção inspirado na visita da atriz francesa Sarah Bernhardt ao Brasil, em 1905. A atriz, em crise profissional e pessoal, é induzida por sua camareira brasileira, Amélia, a apresentar-se no Rio de Janeiro. Entretanto, a partir do desembarque a atriz é obrigada a conviver com as exóticas irmãs de sua querida auxiliar. Sarah Bernhardt encontra-se só e é obrigada a entrar na confusão brasileira.
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    Dolls

    Filme do japonês Takeshi Kitano. Dividido em três partes, esta obra nos leva a fazer parte de uma atmosfera lenta e de partir o coração. Há uma beleza delineando tudo que acontece em "Dolls".


    Impossível não se comover com a primeira história em que os personagens prendem-se a uma corda e vagam pelas ruas. O filme é entremeado por cenas do teatro de bonecos japoneses Bunraku.
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    “Jogo de Cena”
    Direção : Eduardo Coutinho Ano de Produção : 2007 Genêro: Documentário Sinopse : Atendendo a um anúncio de jornal, 83 mulheres contaram suas histórias de vida num estúdio. Em junho de 2006, 23 delas foram selecionadas e filmadas no Teatro Glauce Rocha, no Rio de Janeiro. Em setembro do mesmo ano, atrizes interpretaram, ao seu modo, as histórias contadas pelas personagens escolhidas. Elenco : Marília Pêra Andréa Beltrão Fernanda Torres Aleta Gomes Vieira Claudiléa Cerqueira De Lemos Débora Almeida Gisele Alves Moura Jeckie Brown Lana Guelero Maria De Fátima Barbosa Sarita Houli Brumer Mary Sheyla Sarita Houli Brumer
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    Moscou

    Acabou de estreiar no festival É Tudo Verdade o filme ‘Moscou’, dirigido por Eduardo Coutinho e que se trata da peça nunca exibida ‘As Três Irmãs’, com o Grupo Galpão sendo dirigido por Enrique Diaz.

    Citando o blog ‘Cinéfilo, Eu?’, esse “encontro descomunal” não acontece todo dia. Ambos trabalhos de Diaz e Coutinho são excepcionais e fundamentais para o teatro e o cinema brasileiros. Os horários em que o filme será exibido, no Rio e em São Paulo podem ser conferidos aqui. A última sessão no Rio acontece hoje, no Unibanco Arteplex, às 22h
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    Pavor nos bastidores de alfred hitchcock

    Em Londres, Eve Gill é uma jovem estudante de teatro, apaixonada por Jonathan Cooper, muito embora este nem desconfie de tal paixão. Por outro lado, ele é amante da grande diva do teatro, Charlotte Inwood....

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    bjS espero ter ajudado, vou tentar lembrar de outros e ver os que não assisti

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  2. Pôxa, Trupe errante, muito obeigada pela lista. Vou pegar um tempinho aqui e adicionar. Muito legal mesmo. Jogo de Cena eu conhecia e não lembrei o restante eu vou procurar para assistir. Obrigada pela visita.

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