sábado, 20 de agosto de 2011

INSPIRAÇÕES

Algumas imagens me convocam a criar.
 
Sempre quis fazer um espetáculo que levasse ao palco a sensação que tenho ao ver o copo de escovas de dente na pia. Esta é uma imagem que me convoca, me inspira me intriga.
 
Ela fala pra mim das relações da casa, da família, das visitas que vão e vêm, enchendo e esvaziando este espaço de convívio. Juntinhas, as escovas de dente encostam pés e separam cabeças com cedras que arrepiadas indicam o tempo passado e juntinhas, durinhas, indicam sua antipática e dolorosa juventude.
 
Amo as quatro escovas coloridas, pedaços de mim, meu amor e nossos filhos. Somos nós, dentro daquele copo. Em Jequié, minha escova pende em diagonal, sozinha no banheiro do fundo. Tão eloquente!
 
Outra coisa que me inspira são nomes para possíveis peças que eu faria. Como a imagem das escovas, eu não penso em mais nada além disso, desse impulso inspirador. Não sei avançar. Não trabalho nisso. Curto sozinha a criação. Isso é horrível.
 
São nomes que eu adoro. Como já quis botar em meus futuros filhos, quando eu tinha 15 anos, nomes como Cibalena, Adis-Abeba, Atrib, penso em nomes de espetáculos que me ganham pela sonoridade.
No momento, divirto-me com uma peça em minha cabeça. Seu nome?
 
Avec la participación....
 
Eu adoro ler isso nos filmes franceses ou em produções mistas. É tão sonoro, tão bonito. Aí, eu passo os dias vivendo este espetáculo. Penso nas cenas, vejo, me divirto... Avec la participación...
 
Mas, depois ela passa.
 
Tantas outras que eu já pensei, senti e conclui, sem nunca sair de mim. Isso é que eu chamo de teatro íntimo.
 
Adriana Amorim em: Avec la participación....
 
kkkkkkk. Adoro!
 
O que tem me incomodado porém, é que da fase da inspiração eu não passo. Falta trabalho.
Falta trabalho, porque é trabalho demais.
Ouço Mautner, Arnaldo Antunes, Gilberto Gil, Amy, leio Clarice Lispector, vejo a porra de sua entrevista, meu deus.... Queria fazer poesia ou música, tão mais paupável que teatro. O fazer mais pessoal, mais íntimo, mais possível...
Fazer teatro é difícil demais, minha gente. É um negócio grande, tão grande, envolve tanta coisa.
Num podia ser só isso, no nosso quarto, com a gente mesmo.
 
Ser atriz é uma escravidão.
 
Queria ser Cantora, compositora, escritora, pintora, escultora, afi Camile Claudel.
 
Mas canto e me dou conta que sou só atriz.
Escrevo e me dou conta de que sou só atriz.
Pinto e e me dou conta...
 
Quanta crise para quem ia falar de inspiração.

Mas, entre as escovas de dente e os títulos lindos que me enfeitam o dia-a-dia de professora e mãe, vou vivendo estes anos que passam tão rápido, como ônibus em estrada bem asfaltada.
Dentro de minha cabeça tem um mundo lindo. Mas não sai de mim. Ou aprendo a tirá-lo daqui, ou aprendo a ser feliz assim.


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