sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A GENTE CANTA josé PADILHA

Mesmo com algum atraso, assisti hoje ao filme TROPA DE ELITE 2 - O INIMIGO AGORA É OUTRO e definitivamente quero comentar.

Sei que muito já se disse sobre este filme, sobre sua importância para o cinema nacional, sobre a atuação brilhante de Moura que o coloca em lugar único no nosso cinema, mas o que eu quero cantar aqui é a coragem deste Padilha, e a força  impactante de sua obraem termos políticos, sociais, pedagógicos e tudo o mais que diga respeito à nossa vida nesta sociedade. Eu quero canta JOSÉ PADILHA.

Uma obra de arte impõe-se em seu tempo e o atravessa por reunir em sua constituição uma série de fatores formais, temáticos e contextualizados que fazem dela um marco na sociedade que a origina. E questões sérias como as tratadas em Tropa de Elite, já no original e muito mais no 2, só podem ser tratadas livre e incondicionalmente no ambiente estético. As outras dimensões da nossa vida coletiva: educação, política e todas as ciências são apenas parte e, portanto, sempre tratarão apenas as partes. É a obra de arte a experiência integral da humanidade, seja ela em termos particulares ou públicos.

Foi através de Francisco Duarte Jr (não sei se é idéia original dele) que me dei conta de que a única coisa que encontramos em todas, mas absolutamente todas as civilizações que por sorte conhecemos hoje, através da História é a presença da PRODUÇÃO ARTÍSTICA. Se elas mudam - e mudam - jamais, porém, elas deixam de existir.

Digo isso, para reforçar a minha tese de que apenas neste ambiente que nos unifica como humanos, podemos alcançar questões por todas as vias.

Assistir a TROPA DE ELITE 2 é uma experiência que nos convoca a pensar, que nos entrega ao phatos, que nos tira a calma e a apatia, que nos comove pelo sentimento, que nos impacta pelos sentidos. Unindo direção, efeitos visuais, uma dramaturgia que se assume enquanto tal, evitando o risco de tornar-se um documentário árido, o filme não salva ninguém e ao mesmo tempo salva a todos nós.



Jogando com nossos vícios de espectador acostumado a ser conduzido, não mais sem saber, passamos do repúdio ao defensor de direitos humanos e empatia com o carrasco nazista, como ele mesmo diz, através de constantes tobogãs de emoção, ao retorno da empatia com o bom deputado humanista, ao ódio à polícia, que já estávamos gostando de certa forma, até que o próprio Nascimento diz: A polícia tem que acabar!!! Quem tá certo ou quem tá errado, quem sobra desse lixo todo é uma resposta difícil e nem sei se relevante... A reflexão sobre tudo isso, pra mim já é o maior trunfo do filme.

E esse vai e vem de sensações não pára e a gente se remexe na cadeira, porque é nosso país que está na tela, porque é de nossas próprias vidas que estamos falando.

TROPA DE ELITE 2 é um ato político e a coragem destes artistas, todos eles de jogarem tanta coisa no ventilador é realmente louvável e repito, ainda mais louvável quando se trata de uma obra de arte. Vale por mais de mil discrusos, por mais de mil teses e dissertações, vale por qualquer ação comunitária que se pense fazer. Ele sacode a sociedade e tenho certeza que todos - todos - os envolvidos ali, em qualquer papel que se identifiquem, vão dormir desconfortável, mesmo que por motivos diferentes. Este filme é um ultimato ao Brasil. É um desafio às autoridades,a os governos, às pessoas de bem (de verdade, não no slogan) e às do mal. É uma convocatória, ao dizer pra gente tudo aquilo que a gente, se não sabia, desconfiava.

Ele diz o que parecia que ninguém teria coragem de dizer.

E eu me pergunto como será o Brasil depois de TROPA DE ELITE. Quem vai aceitar o desafio e discutir de fato sobre os rumos que estamos tomando?

Um outro ponto importante do filme, é que ele nos revela que a grande força mesmo, está no povo, na opinião pública e sobretudo, no VOTO. Ainda que manipulado, enganado, corrompido, vilipendiado, explorado, o povo é a grande força e é através de sua manipulação que os grandes bandidos da nação fazem sua sujeira vil. Imaginemos, se utilizássemos toda nossa força pela construção de um Brasil melhor. Ah, meu Deus, seria lindo!!!

Haverá um TROPA DE ELITE 3? Haverá sempre um outro inimigo? Ou será que José Padilha, ainda tão novo, terá o prazer de, um dia, fazer um filme onde registre com toda a maravilha de sua mão artística, um grande passo que tenha levado nosso país a outras realidades?

Se politica e socialmente não avançarmos (eu acho que avançaremos), sei que esteticamente vamos seguir adiante. José Padilha nos encoraja a fazermos obras que não façam concessões. Obras que sejam, integralmente, o grito do artista, a concretização daquilo que ele percebe como mundo e mais que isso, daquilo que ele sonha como mundo.

Muio obirgada José Padilha, por esta obra desconfortável.



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