quarta-feira, 29 de setembro de 2010

OGUM - DEUS E HOMEM de Fernanda Júlia


Imagem é tudo. Ou pelo menos boa parte.

E é por esta porta que quero entrar no espetáculo Ogum, Deus e Homem da minha querida amiga Fernanda Júlia.

O espetáculo é um show de imagens. Os elementos visuais da cena, são de longe, a melhor parte do todo. O figurino de Thiago Romero (esse menino é fera) é uma coisa encantadora e provocadora. Quando a gente estuda FIGURINO existe uma polêmica sobre o trabalho de estilistas assinando figurino para peças, coreografias, shows. Essa discussão nunca me seduziu, porque eu acho que estilistas têm muito a contribuir para a cena (os desfiles de moda têm ocupado cada vez mais este lugar cênico, mas aí é outro post, né, gentes.)

Voltemos ao trabalho de Romero. Sua obra transita entre estes dois espaços, o de uma roupa pensada para o teatro com fortes influências do que se vê atualmente no mundo da moda e do espaço cênico, que cada vez mais se confunde e se faz presente se não no cotidiano, pelo menos no mundo da alta costura e no lançamento de tendências e o de roupa do dia-a-dia, sem ser, necessariamente uma roupa pegada da gaveta e colocada no palco. Falo de criação da roupa neste sentido e não de uso da roupa cotidiana na cena.

Cá pra nós,  super dava para fazer um desfile com aquele Stylist maravilhoso, desde as peças de roupa mesmo, até o look, cabelos, maquiagens, sapatos e tudo mais. Porque diferente do que estamos acostumados no caso de idealização de figurino, onde geralmente a informação está na forma, no desenho, vemos que no caso de Ogum, a escolha do tecido é fundamental (sobretudo quando pensamos nas estampas) e a roupa/figurino revela(m) um toque cotidiano que quase a aproximam de um prêt-à-porter soteropolitano, sem necessariamente afastá-la de sua função cênica, muito pelo contrário. Amei, Thiago, sua produção!!!
Os atores/personagens ficam lindíssimos em cena e isso é bom demais de ver. Eu quero tranças da Negra Jhô.

O cenário e adereços de meu querido Yoshi Aguiar também colaboram para a beleza do espetáculo. Limpo, reduzido ao necessário, sem perder em qualidade estética, carece apenas - e aí não é culpa de Yoshi nem de Fernanda - de um material que dialogue mais com a proposta da forma e aí seria muito caro. Dá uma dor no coração - pelo menos no meu - saber que aquela estrutura que fica na direita alta, bem como as passarelas móveis  poderiam ser de um material mais high-tech, como o tema pede, com mais luminosidade, enfim, que dialogasse com a tecnologia presente no contexto. Dá pra ver a madeira e ainda o papel colado nela. Então, como resultado, a gente vê, mais do que a falta de material, a persistência dos artistas em dar seu recado mesmo na adversidade.

Ainda em termos de elementos visuais, a luz de Luiz Guimarães e Marcos Fernandes também é belíssima. Além de realizar os cortes precisos na composição de imagens, ilumina o espetáculo, o que pode parecer meio óbvio, mas eu tenho visto cada vez mais espetáculos escuros e isso me incomoda muito (sou atriz, e gosto de ser vista em cena, é importante que se diga!). As cores, discretas, ganham vida no branco do palco. não vou negar que o contra verde de Oxossi fazendo sombra do elenco me lembrou a capa de O Teatro Pós-Dramático de Lehmann. Gostei muito.

O espetáculo é quase dança, porque as coreografias de Zebrinha mais do que ilustrar determinadas cenas, são o espetáculo em si. Por isso mesmo, acho que deveriam ser mais precisas em alguns momentos em que sugere precisão. Um pouco mais de vigor nas danças, sobretudo de Jussara Mathias (que está muito bem e é uma grande atriz), mas que às vezes parece que ela tá espantando mosca, meio Marisa Monte, enquanto Clara tem uma pegada mais afro, que eu tenho certeza que Jussara pode chegar. Acho que o vigor associado ao rigor técnico, sobretudo quando as coreografias são em conjunto e requerem unidade podem fortalecer a estrutura da peça.

Esse bolodório todo para chegar agora, na linha dramatúrgica, que eu considero um dos lugares mais frágeis do espetáculo. Às vezes em que temos uma linha dramática para acompanhar acho que a obra enfraquece, sobretudo quando os atores adotam um interpretação mais realista. Nada que atrapalhe, mas eu acho que contrasta com os demais momentos da peça.

Enfim, o espetáculo é muito bom e importante em nosso cenário. A trajetória de Fernanda Júlia é admirável, bem como dos demais membros da equipe, ai meu deus, eu esqueci de falar da trilha que é linda, linda mesmo, com o encontro do terreiro com a rave! Jarbas Bittencourt, meu querido amigo, que devia ser proibido de concorrer a prêmio especial no Braskem. O elenco tem gente nova e gente das antigas que a gente sempre vê em cena porque é gente guerreira que batalha pelo feijão mas que não larga a paixão.

Vida longa a OGUM, ao NATA (Por que Fernando não tá em cena? O outro?) e a todos nós que fazemos teatro, colocando naquele lugar mágico uma parte do que entendemos e desejamos para o mundo. O mundo que nós criamos em cena é uma bela versão do que vemos, vivemos e entendemos do mundo prosaico dessa existência estranha.

Bom, se gostou do comentário, vá ver o espetáculo. Se já viu, dê um pulinho no blog http://ogumdeusehomem.blogspot.com/ e se gostou do post comente aqui para eu melhorar minha escrita sobre o nosso querido teatro de Salvador.


OGUM - DEUS E HOMEM

FICHA TÉCNICA (Segundo o blog)

Dramaturgia
Fernanda Júlia e Fernando Santana
Direção
Fernanda Júlia
Orientação
Luiz Marfuz
Consultoria litúrgico-antropológica
Babá Margio Luis Régis de Souza
Cenografia e adereço
Yoshi Aguiar
Iluminação
Luiz Guimarães e Marcos Fernandes
Figurino e Maquiagem
Thiago Romero
Direção Musical
Jarbas Bittencourt
Coreografia
Zebrinha
ELENCO
VAL PERRÉ
JUSSARA MATHIAS
MARINHO GONÇALVES
FERNANDO SANTANA
JEFFERSON OLIVEIRA
LUIZ GUIMARAES
CLARA PAIXÃO
DEILTON JOSÉ
EQUIPE DE DIREÇÃO
Diretor assistente
Thiago Gomes
Estagiário de direção
Diego Pinheiro
EQUIPE DE CENOGRAFIA
Cenotécnicos
ADRIANO PASSOS
PAULO THUCO MAURÍCIO
ISRAEL LUZ
GEORGE SANTANA
TARCIO PINHEIRO
EQUIPE DE FIGURINO E MAQUIAGEM
Figurinista
THIAGO ROMERO
Figurinista Assistente
TINA MELO
Costureira
MARIA DAS DORES DE SANTANA
Cabelo
NEGRA JHÔ
BILOCA
EQUIPE DE PALCO
Operação de luz
Tarcila Passos e Marcos Fernandes
Operação de Som
Diego Pinheiro
Contra-regra
Tarcio Pinheiro
Camareira
Jaildes dos Santos
EQUIPE DE PREPARAÇÃO
Preparação corporal
Zebrinha
Preparação vocal
Marcelo Jardim
Instrumentista de processo
Jandiara Barreto
EQUIPE DE COMUNICAÇÃO
Assessoria de Imprensa
JOÃO SALDANHA E AGNES CARDOSO
Programação Visual
THIAGO ROMERO
Fotos
LABFOTO
RODRIGO FROTA
THIAGO GOMES
Midias Alternativas
THIAGO GOMES
LAÍS ALMEIDA
Conteúdo Audivisual e OGUM.DOC
THIAGO GOMES
EQUIPE DE PRODUÇÃO
Produção
KALIK PRODUÇÕES ARTÍSTICAS
Direção de Produção
SUSAN KALIK
Produção Executiva
GABRIELA ROCHA
FRANCISCO XAVIER
Estagiário de Produção
DIEGO VALLE

Um comentário:

  1. Olá a todos que leêm este blog,
    Também vi o espetáculo e igualmente gostei, principalmente da maquiagem e figurino. Tem duas coisinha que eu quero comentar: 1) Não gosto gosto muito das coreografias, gosto da expressão corporal dos atores, mas não gosto das coreografias. Não é nem que sejam mal executadas, é que eu acho pouco para ao que se estabelece em cena desde o primeiro instante do espetáculo; 2)Antes de morder vou assoprar, adoro o trabalho de meu querido amigo Yoshi, sou seu fã, mas achei que os elementos do cenário não dialogaram bem com o espetáculo, é uma presença sub-utilizada. Pesada. Que tem sua carga expressiva, estética, bela, mas não compõe com a cena.

    ResponderExcluir